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30 canções que engrandeceram a música portuguesa em 2019

Written by on December 23, 2019

30. “Fado Para Esta Noite” – Xinobi & Gisela João

 

Deixa um recado ao luar, mete umas sapatilhas clássicas e sacode os primeiros lábios pintados a vermelho que encontres. A releitura electrónica para a faixa de abertura do primeiro longa duração de Gisela João, Nua (2016), é de uma fineza que nos faz pensar que as noites deviam começar com esta atmosfera. Podes culpar o mágico Xinobi e o selo Discotexas pela transformação deste fado curvilíneo.

29. “Agora Já Não És Capaz” – Cassete Pirata

Eles são cinco, mas podiam ser um sexteto. Há um ponta de lança (Pir, voz/guitarra/autor das letras), dois “carregadores de piano” (António Quintino e João Pinheiro, baixo e bateria), duas playmakers (Margarida Campelo e Joana Espadinha, vozes e teclados) e o estratega nos bastidores (Benjamin, produtor). Do que são capazes? De arejar a pop com canções que afastam qualquer rancor que tenhas no peito, de fazer esquecer separações marcantes. Esta Cassete é “memo” boa.

ÁlbumA Montra (2019).

 

28. “Senso Comum” – Men On The Couch

A verborreia nas redes sociais, o chico espertíssimo espelhado em currículos ou as cunhas que pululam o dia-a-dia, já não são novidade. O que não esperávamos é que estes rapazes da Madeira expressassem isso de forma exemplar. Quando quiseres mandar alguém à merda com elegância, não procures mais. Às vezes, é nos sofás que encontramos algo que parecia impossível de localizar.

ÁlbumSenso Comum (2019).

 

27. “Madrepérola” – Capicua feat. Karol Conka

A rapper nortenha faz um rewind nas referências e cita as figuras de Nina Simone, Simone de Beauvoir, Elza Soares, Lhasa de Sela, Elis Regina ou Grace Jones – entre outras e outros, como Mandela, Che Guevara e Maradona. O novo single, Madrepérola, tem estrogénio suficiente para fazer dançar e conspurcar contra o patriarcado. Esta preciosidade feminista ganha ainda mais força com o teledisco de Clara Não e André Tentugal. A retro-colagem é educativa, sarcástica e tem “um final Nanette” (“There is nothing stronger than a broken woman who has rebuilt herself”).

ÁlbumMadrepérola (previsto para 2020).

 

26. “Só Um Beijo” – Luísa e Salvador Sobral (ao vivo em casa)

A modernidade não é só isto, mas é muito disto. As músicas são compostas na intimidade do lar, trabalhadas em estúdio e ganham vida própria junto dos fãs através das plataformas de streaming. Depois há reciclagens live que batem a versão em disco (viva ao youtube e meandros). Na véspera de Natal do ano passado, os irmãos Sobral divulgaram este vídeo e deram ainda mais charme a “este beijo”. Ainda não coraste?

Álbum: (a versão original aparece em) Rosa (2018).

 

25. “I Give Up and It’s Ok” – Marinho

Dizem os entendidos em cenas empresariais, que os norte-americanos são mais tolerantes com alguém que falhe do que no continente europeu. Por cá, o não atingir objectivos é visto como embaraçoso e um rotundo insucesso. Será mesmo assim nos dois lados do Atlântico? Enquanto reflectes, saboreia a esperança e a ternura deixada por Filipa Marinho. Seja na vertente profissional ou íntima, não é mau desistir e é ok dar um novo rumo à palavra “expectativa”.

Álbum: “~“ (2019)

 

24. “Sunny Days” – Mr. Gallini

Pisões? Stone Dead? Lovely Demos? Temos a localidade de origem, o grupo onde ganhou calo e o primeiro álbum como Mr. Gallini. Bruno Monteiro é o músico de quem falamos e o anfitrião desta epopeia pop que mergulha nos anos 90 com perfume brit (lembras-te dos White Town?), sem rejeitar o sol luso e a juventude sonhadora. Quem venham os tempos da brasa.

ÁlbumThe Organist (2019).

 

23. “Besta Quadrada” – Gaiteiros de Lisboa

Atenção, atenção: aldrabões do reino; gajos que tratam o Estado como o seu quintal; gente que até a dormir arma um esquema ardiloso para encher os bolsos de euros. Este devia ser o vosso hino… À entrada de um estabelecimento prisional. Aí, vão ter todo o tempo do mundo para “tocar à gaita”

ÁlbumBestiário (2019).

 

22. “Seasons” – Stasera

Afonso Simões, um dos mentores da Associação Cultural Filho Único e baterista dos Gala Drop (entre outras facetas), toma conta dos corpos suados depois das cinco da manhã e marca o compasso com disco acelerado. Uma nota: se mexeres a alma em qualquer das Estações à conta de Stasera, acho que ele não leva a mal se o apelidares de “Cerrone”. Continuamos a bailar no after?

12”Seasons/ Trainhouse (2019).

 

21. “8h17am” – IVY feat. Rui Gaspar

Tristeza, melancolia e a dor que a leva acreditar. No outro, em si ou no som que transpira da sua imaginação. IVY (ou se preferires a Rita dos Grandfather’s House) marca as horas da sua catarse e banha-se no rio da mutação. Rui Gaspar é o parceiro nesta conjugação de suspiros que ecoa a um “desafio” entre as irmãs Cocorosie e o gentil e frágil, Antony. Quando o relógio atingir as 9 da matina, a angústia já os abandonou…

ÁlbumOver and Out (2019).

 

20. “Interveniente Acidental” – David Bruno com Mike El Nite

Queres ser o dom Juan da construção civil? Sacar piropos da loja dos trezentos como se fossem um Rolex adornado por “inscrições shakespearianas”? Primeiro tens de conhecer o caloteiro que faz escala em Gaia antes de chegar a Miami, saber onde se come uns lagostins para impressionar a amada e estar a par de narrativas que envolvam “golas”, “cofres” e “amizades milionárias”. Será David Bruno o “Ricardo Araújo Pereira” da música portuguesa?

ÁlbumMiramar Confidencial (2019).

 

19. “Balança” – Throes + The Shine

A meio da década passada, o país viu um colectivo levar a Lisboa mestiça e hedonista para o estrelato nacional (mais tarde, além-fronteiras). A poção sonora dos Buraka Som Sistema pode não dar frutos directamente em 2019, mas os seus “criadores”- como Branko ou outros naturais seguidores – continuam a difundir os estímulos daquela época. Os Throes+The Shine revelam composições bastante equilibradas e reforçam a união entre Portugal e Angola em eventos abertos a cadências exóticas. “Não vacila e rebenta o shot de tequila.”

ÁlbumEnza (2019).

18. “Colete Amarelo” – Valete

Quando canta “Eu quero ser mais um soldado contra Bolsonaro” e “Que se foda Vasco da Gama, ensinem Shaka Zulu”, um dos rappers com mais tarimba acena com a bandeira da polémica. Valete é também o músico que viu o extremar de opiniões devido a um dos seus telediscos no último semestre. BFF tem um storytelling poderoso que dificilmente escaparia a ataques cerrados. De que lado está a razão? É vestir o colete amarelo para que não atropelem o que cada um tem a proferir…

ÁlbumEm Movimento (edição em 2020).

 

17. “Lágrimas” – Slow J

Algumas das tatuagens da vida ficam cravadas como abanões complicados de ultrapassar. A experiência de um aborto espontâneo deve ser das coisas mais terríveis que um casal pode viver. Esta realidade entrou no quotidiano de João Batista Coelho (aka Slow J) e estas “lágrimas” mostram a profundeza desse desgosto. “Tirava-te a dor e ficava eu com ela; Eu dava-te a flor e ficava com espinho” canta ele para ela – e pelos dois. Doloroso.

ÁlbumYou Are Forgiven (2019).

16. “You Seem Intelligent” – Time For T

Com a idade a passar, pode não ser bonito lembrarem que estamos a ficar um bocadinho sem futuro – ou como quem diz “’tás a ficar velho pá!”. O raio da nostalgia tem de ser salva, o nosso ânimo abraçado e a jornada precisa de uma banda sonora leve, querida e inteligente. Não sabemos se é chá que o quarteto toma, mas o certo é que é um prazer ter este folk preparado para servir (ouvir).

ÁlbumGalavanting (2019).

 

15. “Primavera” – Luís Severo

O que é isso da liberdade? Pegares no próximo avião que esteja de saída e partir só com a roupa que tens no corpo e o passaporte na mão? Acordares todos os dias à hora que bem entenderes? Ou é muito, muito mais elementar do que isso? Primavera de Luís Severo anui e convoca todos os sentimentos que nos consomem com gosto e fervor. O beijo está no ar.

ÁlbumO Sol Voltou (2019).

 

14. “Hipocampo” – Lena d’Água

Sem demagogia, fez-se uma grande festa pelo regresso de Lena d’Água aos discos em nome próprio (trinta anos é uma longa ausência). Não foi preciso dar um robot para o menino e outro para a menina, pois até um doce teria convencido os They’re Heading West a ser parte integrante deste comeback. A celebração é feita no campo com gatinhos, bolinhos e orações… Vai um tchin-tchin?

ÁlbumDesalmadamente (2019).

 

13. “Galanteio” – Três Tristes Tigres

É uma das novidades supimpa para 2020. O duo Ana Deus e Vítor Soares prepara o regresso aos álbuns e, por aquilo que se ouve em Galanteio, deve confirmar o normal. Uma música que absorve a mente e releva o trunfo de ouro que é a escrita de Regina Guimarães – o 3º elemento omnipresente. Enquanto o próximo trabalho não aterra na playlist, afasta o desânimo e recupera discos anteriores (caso de Guia Espiritual, de 1996) ou o projecto Osso Vaidoso ( Animal, 2011).

Álbum: (sem título confirmado e agendado para a Primavera)

 

12. “E de repente” – André Henriques

“Estatelado. No bolso, a carteira e um gadget para ouvir música. Há The XX e o Naive Song de Mirwais. Ainda há a banda sonora de Killing Eve e outro tema da série The Killing. Parece interessante e perigoso. Como o Amor.” Podiam ser notas soltas do detective que averigua o sangue que transpira na intrigante composição. A repentina aposta a solo de um membro dos Linda Martini promete. Para ter debaixo de olho (os temas que se seguem e a miúda de “passo elegante”).

Álbum: (Previsto para 2020).

 

11. “Telas na Areia” – Sensible Soccers

“Lindstrom? ‘Tás a ouvir? Estava a ver que perdia o sinal. Olha, o ‘arco-íris’ de Flavien Berger e ‘os vinis’ de Gerd Janson confirmaram a presença. Sobre a programação concordou-se em homenagear Pollock, em ter dissertações sobre o fim das longas digressões por causa das alterações climáticas e ainda clips all night long com fintas de Maradona e de Messi. Como te disse, não vale a pena trazeres companhia. Ninguém vai a praia e leva areia, certo?”.

ÁlbumAurora (2019).

 

10. “Clítoris” – Catarina Branco

“Sabia que o clítoris é um órgão cuja única função é dar prazer a uma mulher? (prazer a uma mulher, a um homem-trans e às entidades não-binárias)”. Em pouco mais de um minuto está resolvido o puzzle que parecia um “quebra-cabeças”. Podes pôr em repeat se ainda tiveres dúvidas, ou ver ao vivo um concerto da Catarina com a etiqueta Maternidade.

EPTá Sol (2019).

 

09. “Boa Memória” – Capitão Fausto

A química entre os membros dos Capitão Fausto é a face de um muro inquebrável, o vértice que evita o descomplicado e boom… Sai outro êxito para abrilhantar a boa disposição. É pop/rock com um brilhozinho nos olhos, assente num videoclip com frémitos humorísticos e pose “sério&jocoso”. A amizade é a base do compromisso, da confiança e do sumo final que não engana. Mais uma canção para marcar o legado do grupo.

ÁlbumA Invenção do Dia Claro (2019).

 

08. “Passarinhos” – S. Pedro

Catchy, catchy, catchy this one if you can. Pedro Pode e conseguiu mesmo – yup, o nome dele é danado para trocadilhos. Basta estar no ar que contagia outras aves (oops) e quem está colado ao rádio também não consegue escapar. A sensação é interessante tal e qual a carreira de Pode. Já teve incursões no rap e no metal, foi “o gajo” dos doismileoito e agora leva o emblema de uma das figuras que compôs uma das melhores deste ano. “Podia ser sempre assim”.

Álbum: Mais Um (2019).

 

07. “Bandido Velho” (acústico) – Allen Halloween

Portugal é um belo país cheio de espinhos (a Sandra Felgueiras e a Ana Leal que o digam). Uns são expostos na TV e nas atribuladas redes, outros varridos para debaixo do tapete e uns quantos são lembrados pela arte – neste caso, de um músico da periferia de Lisboa. São as vivências e as agruras dos jovens africanos que Allen Halloween refere nas letras. Com a intenção de alertar, aconselhar e mudar mentalidades. “Quem não arrisca não petisca, ya é verdade, mas não há melhor petisco do que a liberdade”.

ÁlbumUnplugueto (2019).

 

06. Invenção da Tarde – Manel Cruz

“O amor é louco quando o vemos/ Como se o medo nos parasse/A criança que em nós se afunda/ O homem por trás do vidro/ Somos nós repensando o plano/ Que roubamos aos sentidos/ E dizemos que é da sorte/ Porque a vida está cansada/ Mas ninguém vive para nada/ Por mais entregue ao vazio/ A guerra destrói a estrada/ Mas nada se faz sem luta/ Não há paz de mão beijada/ Não há paz de mão beijada.”

Obrigado Manel.

ÁlbumVida Nova (2019).

 

05. “Primeiro Ministro”- Sereias

Abram alas para a terapia de choque que António Costa, Passos Coelho, José Sócrates, Durão Barroso, António Guterres e Cavaco Silva sentiriam se um dos seus assessores tocasse este “pequeno-almoço” com “défice” e “tédio”. A banda Sereias pretende levar o país ao divã, mas tem a noção de que o centrão está amarrado às suas idiossincrasias. Reverter a tesão rosa-laranja (a que se juntam outras cores partidárias) é o mesmo que pedir aos EUA para retirar os militares em todas as bases onde estão estacionados. Impossível. Que a afronta com marca Lovers & Lollypops continue!

ÁlbumO País a Arder (2019).

 

04. “Lisboa Não Sejas Racista” – Fado Bicha

“Desconstruir e reinventar o fado. Mas que grande ousadia esta. Para alguns, este projecto já deveria ter surgido há muito tempo. O Fado Bicha nasceu de uma vontade e de uma cumplicidade. A vontade de Tiago Lila expressar a sua arte através deste género e a cumplicidade de João Caçador ao mexer nas convenções musicais de um género agarrado a Lisboa, à tradição e à imagem de uma cidade e de um País de nostalgia e emoção”. Ler texto completo aqui. (a faixa é uma adaptação do popular Lisboa Não Sejas Francesa, interpretado por Amália Rodrigues).

ÁlbumOcupação (lançamento para o primeiro semestre de 2020).

 

03 “A Minha Amada” – Mão Morta

Descrever cenas de sexo é uma tarefa mastodôntica. Adolfo Luxúria Canibal é um artífice que faz das palavras um palácio rodeado de trincheiras que caímos com admiração (como é que podíamos dispensar a pura filigrana literária?). Os seus contos lavados em spoken word introduzem enredos que nos deixam tristonhos por terem um fim – como aquelas séries televisivas que passam a saudosismo viciante. Em A Minha Amada, a líbido explode por toda a parte e o futuro sexual incendeia a galáxia do receio. Afinal, o fim é quente.

ÁlbumNo Fim Era o Frio (2019).

 

02 “Deus nos livrai” – Chico da Tina

A lista best 2019 está quase a fechar e já ouve quem mandasse à merda com estilo, quem explicasse o que é o clítoris, quem metesse o défice no cu e falou-se de esperma na anterior. Só falta um artista para completar o ramalhete com uma desafiadora piça. Chico da Tina confirma o que há muito suspeitávamos. O humor minhoto é mel que tinha aguçado, por exemplo, os curiosos nos anos 90 através dos gozões Mini-Drunfes. Desta vez, a “rapeirice” (rap+brejeirice) assalta a moralidade de certos tugas que se julgam de elite, mas não passam de saloios que têm uma meia branca enfiada no cérebro.”Toda a tua postura joe, pretensiosismo; todo o teu discurso bro, autoclismo”.

EPTrapalhadas (2019).

 

01. “Um Ai” – Maria Reis

Que rufem os tambores! Maria Reis culmina a fase de transição a dois – previamente dividiu as Pega Monstro com a irmã Júlia – e grava o seu primeiro LP com colaboradores de peso onde se incluem B Fachada, o irmão António Quintino, dos Cassete Pirata, e Leonardo Bindilatti . Um Ai contém solidão efusiva, um inevitável anda p’ra frente (“há quem diga que é melhor esquecer do que sentir”), a introspecção confusa-serena e um vasto mixed feelings entre a ruptura e o recomeço (“há quem diga que a alegria serve p’ra sofrer”). Esta Maria enche-nos as medidas.

ÁlbumChove na Sala, Água nos Olhos (2019).

 

 

Fonte: VICE Portugal