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O novo mural de Lisboa é uma homenagem a Simone de Oliveira — pintado pelo neto

Written by on April 21, 2022

Mural de Simone Oliveira - Camões Rádio - Portugal

André Mano é o arquiteto e writer responsável pela obra. A cantora de 84 anos despediu-se recentemente dos palcos.

 

Depois de quase oito anos a viver no Luxemburgo, André Mano regressou a Portugal. Coincidiu com a data em que a sua avó, a cantora e atriz Simone de Oliveira, decidiu reformar-se oficialmente com um concerto de despedida no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, que aconteceu a 29 de março.

A propósito deste espetáculo, a equipa mais próxima de Simone de Oliveira — composta pelo maestro Nuno Feist e a manager Fátima Bernardo — reuniu-se com o neto André Mano para lhe pedir autorização para usar uma pintura que tinha feito da avó. O objetivo era utilizar a imagem para o cartaz do evento. Naturalmente, André Mano disse logo que sim — e recuperou uma ideia antiga de fazer um mural de homenagem à avó.

“Já tinha falado com a minha avó há uns anos e tinha-lhe dito: a avó conhece os presidentes todos das câmaras e das juntas de freguesia, arranje-me lá maneira de eu lhe pintar um mural em sua homenagem, em Lisboa, enquanto ainda está viva. Na altura rimos sobre isso e cheguei a falar com alguém na câmara municipal, mas depois houve eleições, havia o Covid, o mundo meio que parou”, explica à NiT.

Depois de um contacto com a Junta de Freguesia de Alvalade, porque tanto Simone de Oliveira como André Mano cresceram neste bairro lisboeta, foi escolhida uma empena na Rua António Patrício com vista para a Avenida de Roma para servir de tela. Um consenso entre os moradores foi suficiente para que o projeto avançasse.

A peça ainda não está completamente concluída, mas as primeiras imagens já foram divulgadas e há muitos curiosos já a descobrir o mural no próprio bairro. André Mano explica que só faltam alguns detalhes na parte de baixo, mas o vento forte tem atrasado o processo nos últimos dias. A ideia é que esta semana fique pronto, para que depois a Junta possa realizar uma inauguração oficial.

Simone de Oliveira ainda não viu a peça, mas o neto mostrou-lhe um esboço antes de iniciar a pintura. “Só a queria levar lá quando o mural estivesse acabado.”

E acrescenta: “Depois de acabar este mural, objetivamente não precisava de pintar mais nada na vida. A minha missão poderia ser dada como concluída. Obviamente poderia pintar mais, mas é um enorme prazer e orgulho poder pintar a minha avó no bairro onde crescemos, sobretudo enquanto ela está viva. E mostrar-lhe também, de certa forma, como ela me inspirou”.

O rosto de Simone de Oliveira, com um cigarro Chesterfield Blue entre os dedos — que se tornou na sua imagem de marca —, está rodeado de uma paisagem urbana em que cada edifício tem uma espécie de placar com uma palavra. “Mulher”, “Mãe” ou “Filha” são algumas delas. Também lá estão duas das suas canções mais icónicas, “Desfolhada” e “Sol de Inverno”, além de um tributo ao ator “Varela da Silva”, o grande amor da vida de Simone de Oliveira.

“São os temas que para mim são mais relevantes, são tudo palavras da minha interação com ela. É a minha avó no meio de uma cidade desenhada por mim, por isso é que também estão lá os nomes dos meus melhores amigos, que as pessoas nem sequer reconhecem. E quando lhe mostrei o esboço, ela disse ‘André, isto és mesmo tu, é mesmo o teu trabalho’. E eu: ‘Pois, com a avó lá no meio. Nós os dois, estamos juntos’.”

O neto mostra-se orgulhoso da avó depois de ter assistido ao espetáculo no Coliseu dos Recreios. “A minha avó está de parabéns, saiu pela porta da frente. O coliseu levantou-se todo assim que ela entrou em palco. Acho que esteve muito bem, não poderia ter sido melhor.”

Diz ter uma relação de “muita amizade e cumplicidade”. “É alguém com quem eu privo, estamos muitas vezes só os dois, telefono-lhe com alguma regularidade só para saber dela e vice-versa. Somos, no fundo, mesmo amigos.”

Com 32 anos, André Mano desenha desde que se lembra. É arquiteto e faz graffiti de forma mais séria há cerca de 10 anos. Vê-se como um criador multidisciplinar — gostava de explorar esculturas e trabalhos 3D que pudesse materializar a partir dos seus desenhos. Para homenagear a avó, usou cerca de 300 latas de tinta em spray. O seu trabalho pode ser acompanhado no Instagram.

 

Fonte: NIT/Ricardo Farinha