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A herança de José Afonso na nova geração

Written by on February 23, 2022

Herança de José Afonso - Camões Rádio - Música Portugal

Em José Afonso “não havia desequilíbrios entre o músico e o homem de intervenção”
Foto: Arquivo Global Imagens

 

A herança de José Afonso na nova geração

 

Desapareceu em 1987 uma das consciências do século XX português. Músicos contemporâneos falam sobre o legado.

Calou-se há 35 anos a voz da Revolução. Não só a do 25 de Abril, que teve como segunda senha de ativação “Grândola, vila morena”, mas também a da música popular portuguesa, que nela encontrou o principal condutor na via para a modernidade. José Afonso tombou a 23 de fevereiro de 1987, aos 57 anos, no Hospital de São Bernardo, em Setúbal, vítima de esclerose lateral amiotrófica. Foi músico e cidadão comprometido até ao fim, lançando o seu último disco, “Galinhas do mato”, em 1985, e apoiando a candidatura presidencial de Maria Lourdes Pintasilgo em 1986. Recusou a Ordem da Liberdade, atribuída pelo presidente Ramalho Eanes, em 1983, ano em que foi visto pela última vez em palco, nos Coliseus de Lisboa e Porto. Deixou saudades, descendentes, estudiosos. Deixou herança incalculável na música e no espírito.

“Não havia desequilíbrio entre o músico e o homem de intervenção. Se não se tivesse envolvido na política, deixaria na mesma uma obra extraordinária. E é alguém que pode ser apreciado mesmo por quem não partilha das suas ideias”, diz Capicua, a rapper que cresceu a ouvir José Afonso e que julgava que “A formiga no carreiro” e outros temas se destinavam a ela enquanto criança. Ficou surpreendida quando o pai lhe explicou, mais tarde, que muitas das letras eram “códigos para driblar a censura” e teve uma epifania. “Abriu-se um portal: percebi que as canções podiam ser formas de passar mensagens e que a aliança entre a música e a palavra era um superpoder.” Capicua não fez versões de temas de José Afonso, mas utilizou samplagens da sua voz em vários temas: “Qualquer pesquisa sobre a música tradicional se cruza com o Zeca e creio que será sempre assim: num sample, numa releitura ou num resgate há de continuar viva a sua influência.”

 

COMPANHEIRO DE SEMPRE

Menos otimista quanto a essa continuidade está Bezegol, músico que circula entre o hip-hop, o reggae e a eletrónica, e que gravou uma versão de “A morte saiu à rua” em 2012. Foi justamente quando apresentou o tema que ficou “triste e desconcertado por muita gente pensar que era um original” seu. Para Bezegol, falta alguma pedagogia na divulgação de José Afonso: “Creio que não basta dar a conhecer a música, é preciso explicar quem ele foi, dar um enquadramento, porque a memória vai-se perdendo. O mesmo para o Carlos Paredes. Que sabem os putos sobre ele?” José Afonso é um companheiro de sempre para Bezegol, que continua a espantar-se com a sua capacidade de “camuflar” as mensagens, de “usar a ironia para expor as coisas”. “Acho que são ensinamentos úteis ainda hoje. Não vivemos em ditadura, mas continua a ser necessária uma certa dissimulação para falar de alguns assuntos.”

 

Novas reedições do cantautor a partir de abril

Prossegue o plano de reedições da obra de José Afonso, iniciado em outubro de 2021 com o lançamento dos seus três primeiros álbuns. Entre abril e maio “Cantigas do maio”, “Eu vou ser como a toupeira” e “Venham mais cinco”. De setembro ao fim do ano chegam mais quatro álbuns. No início de 2023 fecha-se o primeiro ciclo com “Fados de Coimbra e outras canções”. “Tem sido um sucesso de vendas, os três álbuns atingiram o top 10 nos discos nacionais. E há uma reação fantástica à remasterização feita em Hamburgo pelo engenheiro de som Florian Siller”, diz Nuno Saraiva, responsável da etiqueta Mais 5, que promove as reedições em articulação com a família do cantor. “Acabado este ciclo, pensaremos num disco de versões por músicos internacionais e depois talvez venham inéditos e raridades.”

 

 

Fonte: JN