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Kendrick Lamar desenhou uma cidade interior em forma de disco

Written by on May 17, 2022

Kendrick Lamar novo álbum - Camões Rádio -Música

 

Regresso com um álbum vasto, salpicado de ousadias e traumas.

“Mr. Morale & The Big Steppers”, o primeiro álbum de Kendrick Lamar em mais de cinco anos, é o equivalente sonoro a uma vasta malha urbana que não converge para um centro. Talvez um reflexo do berço geográfico deste rapper, compositor e produtor, nascido há 34 anos em Compton, apenas uma peça da imensa manta de retalhos cultural de que é feita Los Angeles. Este será, aliás, o álbum mais caleidoscópico de Lamar. E não de uma forma plausível de ser entendida de pronto como mainstream.

Kendrick Lamar passa os 18 temas e os 73 minutos do álbum a saltar faixas de rodagem, avenidas, quarteirões. É um alinhamento modernista, às vezes familiar, mergulhado em soluções inventivas que, em vez de abraçarem a abstração, vão gerando novos corpos, corpos sólidos, para o hip-hop.

Em “Mr. Morale…” Kendrick descreve com pormenores clínicos o seu lugar em si próprio. Abundam os traumas familiares. Celebratório, provocador, lúcido, translúcido, notável no sentido de observação, afiado sem dar ao ouvinte o presente armadilhado das Grandes Verdades Universais.

“United in grief” encadeia soluções rítmicas psicadélicas suficientes para sustentar um punhado de carreiras. “Crown” segura-se a um piano, pendular, acordes minimais repetitivos, discutivelmente com uma porção de jazz (e gospel), mais sombra do que luz, um hipnótico coro de Kendricks. “Savior – Interlude”, mais urgente, prefere elevar-se unicamente a partir de um ensemble de cordas. Mas também há groove direto, ouro líquido, como a doçura crepuscular do r&b em “Die hard”; as sucessivas explosões em câmara lenta que dão sustento ao dueto com Summer Walker em “Purple hearts”; os créditos e os violinos a rolarem, em glória, para “Mirror”.

Perto do fim, dois monumentos. “Auntie diaries” é uma brilhante e ousada peça em crescendo orquestral acerca da aceitação da transsexualidade. “Mother I sober” serve o ritmo como batimento cardíaco acidentado, o piano aberto mas melancólico, as cordas que vão emergindo, o trânsito de vozes em fundo, o refrão com Beth Gibbons. Uma soma épica.

Mr. Morale & The Big Steppers
Kendrick Lamar
Interscope/Universal

 

Fonte: JN